REVOLTA NA COZINHA
Na minha cozinha um dia
Houve grande confusão
Andou toda a loiçaria
Numa quente discussão.
Apliquei bem o ouvido
A revolta era c'o tacho
Por ele ser preferido
Desde o comuna ao facho.
"Nada fiz p'ra merecer
De todos tanto agrado
Quem é que mandou fazer
Tantos tachos p´ro mercado?"
"Vamos todos protestar"
Diz a panela em tom lento
"Um carro nos vai levar
Amanhã ao Parlamento!"
"Tem calma diz a sertã
Um pouco envergonhada
" Não vamos já amanhã
Estou muito mascarrada."
A esguia cafeteira
Diz logo toda emproada
" Não te rales companheira
Dou-te já uma banhada!"
Rindo o tacho à gargalhada
Diz do seu pedestal:
"Por mais que sejas esfregada,
Ficas sempre a cheirar mal!!!"
"Cala-te tacho encardido
Não serves a quem precisa
És sempre atribuído
A quem já usa divisa!"
"Chama-me o que quiseres
Do meu destino não fujo
Se bom exame fizeres
O que há mais é tacho sujo"
Numa gaveta arrumada
Lá pensava o talher
"Entre tacho e panelada
Nunca metas a colher!"
Chegados ao Parlamento
Só o tacho teve entrada
Mais um menos um lá dentro
Não suja a roupa lavada!
Ausenda Ribeiro

















